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Rute Costa: da carreira terminada em 2014 ao “impensável” e recordes em Portugal

Rute Costa: da carreira terminada em 2014 ao “impensável” e recordes em Portugal

7 Setembro, 2017
Entrevistas

Rute Costa: da carreira terminada em 2014 ao “impensável” e recordes em Portugal

Destacada pela primeira vez em 2014 no nosso projeto entre a elite dos guardiões, Rute Costa começou a folhear várias páginas que nunca imaginara percorrer. Do desaire de uma lesão quase impossível de superar na posição que ama ao sucesso nacional poderia um bom pontapé de baliza para esta entrevista, mas há muito mais a revelar sobre uma carreira que podia ter parado dois meses depois de a termos dado a descobrir.
Volvidos três anos, revelamos sobre as linhas do nosso espaço vários golos que não entraram na baliza da atual guarda-redes do SC Braga e da seleção de Portugal. Rute Costa e O Mundo dos Guarda-Redes parecem estar de luvas dadas na baliza e na vida.

 

O fim premeditado da carreira e a recuperação “impensável” com a ajuda do mentor

Dois de março de 2014 foi mesmo o dia que podia ter terminado com uma carreira então recém-começada na baliza. “Consumida pela mania da perfeição decidi que devia ficar com uma bola que uma adversária cruzou para a grande área, para evitar o pontapé de baliza. É inacreditável como um lance inofensivo criou tantos perigos: não fiquei com a bola, tocou-me e saiu pela linha final e foi quando senti que algo de muito errado tinha acontecido. Partiu”, revelou-nos Rute Costa, que ainda enfatizou mais sobre o drama vivido, já no Hospital. “Fiquei cinco dias internada à espera de uma operação que devia, no máximo, acontecer no prazo de dois dias.”
Foram oito meses de calvário: “primeira operação – colocar uma placa e nove parafusos no tão limitado espaço da minha falange e 60 sessões de fisioterapia sofridas; segunda operação – remover o que suportava antes o osso estilhaçado, como se de um pedaço de vidro se tratasse, e mais 40 sessões de fisioterapia não menos sofridas.” O diagnóstico dos especialistas era frio e duro: Rute Costa jamais poderia estar envolvida em qualquer Desporto que envolvesse a utilização das mãos. Enquanto isso via as sessões de fisioterapia “sem resultados nenhuns.”
Então, as exigências do seu curso na FADEUP obrigaram-na a estagiar num clube de Futebol e, pelo currículo, foram-lhe atribuídas as funções de… treinadora de guarda-redes. Aí conheceu António Pontes, técnico específico já com passagens em vários clubes da Associação de Futebol do Porto (AFP). “Foi o principal responsável pelo meu regresso aos relvados. Respeitou sempre o meu passado e os meus receios em cada sessão de treino que fazíamos e com pequenos passos voltei a Ser Guarda-Redes. Tudo o que conquistei é resultado das características que tenho como atleta e como pessoa e também graças a ele, pelo excelente treinador e notável pessoa que é. Conseguimos o impensável.” Rute Costa regressou ao Futebol para representar o Albergaria.

Segunda parte da entrevista a Rute Costa: “Em Portugal o talento das guarda-redes precisa ser estimulado e trabalho”

O regresso à competição, a atenção aos estudos e o levantar voo para marcas e recordes em Portugal

Trancou a baliza em cinco jogos consecutivos – registou 452 minutos consecutivos de imbatibilidade -, no clube de Albergaria-A-Velha, venceu o prémio de Guarda-Redes do Ano de 2015 entre os leitores de O Mundo dos Guarda-Redes e foi convocada pela seleção para o Mundialito de Futebol de Praia, após levar o clube à final da Taça de Portugal. Não seria tudo.

Surgiu o SC Braga e a oportunidade de “ser remunerada por estar a fazer aquilo de que se gosta”. E 2016/2017 vinha “superar as expectativas no sentido do reconhecimento individual.” Não seria para menos. Foi eleita a melhor guarda-redes do campeonato para o Sindicato de Jogadores de Futebol Profissional (SJPF), e também na gala das Quinas de Ouro. Foi convocada para a seleção principal em janeiro e estreou-se na derrota frente à Irlanda do Norte (0-1), tendo sido selecionada ainda para a Algarve Cup e para o Europeu, disputado pela primeira vez pela conjuntura nacional. Como se não bastasse a analepse vamos acrescentar duas sagas de imbatibilidade que se fizeram recordes: 776 minutos de outubro a dezembro de 2016 e outros 669’ sem sofrer entre janeiro e fevereiro. E quis mais.

Terceira parte da entrevista a Rute Costa: “O treinador de guarda-redes é alguém que vive os sonhos dos seus atletas”

“Sempre foi um dos maiores desafios que tive [conciliar os estudos com o Futebol].” Entretanto, Rute Costa conseguiu a licenciatura em Ciências do Desporto e o mestrado em Ensino de Educação Física nos ensinos básico e secundários na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto – FADEUP. “Foram resultado de muito esforço, dedicação, organização e sacrifício. Hoje percebo que não conseguimos apenas ser bons numa coisa, se houver compromisso podemos dedicar-nos com sucesso a mais do que uma coisa. Tudo depende de quão sacrificados estamos dispostos a ser”, sentença da guarda-redes.