Desde a década de 70 poucos poderão contar as histórias da evolução da posição número 1 do Futebol como as mãos de Celso Simão. Centenas de jogos, centenas de companheiros e adversários, milhares de remates detidos e muitos momentos desenhados com o tamanho dez da sua mão. Depois disso, tudo tem um fim. Ou um recomeço.
28 anos depois de ter começado no Armamar, fecha a defesa da no Cinfães e salta para outra responsabilidade. Partilhará a baliza a quatro mãos de 2015/2016 em diante. Após tantos anos a honrar os símbolos e os adeptos dos clubes por onde passou, Celso Simão será treinador de guarda-redes, na mesma equipa que o viu fazer a última defesa.
“O Futebol, em termos gerais, tem evoluído. Só para dar um pequeno grande exemplo: será que alguém tem noção do que é ter um treino específico de guarda-redes num campo pelado? Técnica e fisicamente é surreal”, começa por enumerar Celso Simão que calcou as terras das distritais e as relvas dos palcos profissionais. “Quando comecei a jogar Futebol ia para a baliza porque tinha jeito, e a partir daí éramos autodidatas, ninguém tinha ou sequer se pensava em treinadores específicos”, avança ainda que “agora todos os clubes têm um técnico de guarda-redes… não se pode é cair no exagero e não se pode ter um treinador de guardiões só porque sim.”
O jogador mais velho dos campeonatos profissionais e semi-profissionais fecha 2014/2015 com o sentimento de dever cumprido. “A época correu bem, a nível pessoal e colectivo”, afirmou, “mas depois de muito ponderar, e em consonância com o treinador [Arlindo Gomes], achámos que era o momento certo para ajudar no treino de guarda-redes.”
Orgulhoso da sua carreira, que conta também com passagens por Tabuaço, São João da Pesqueira, Régua FC Marco, Sporting da Covilhã e Amarante, o agora treinador de guarda-redes, nascido em Folgosa do Douro, deixou um sonho por realizar: “esteve perto, bem perto de se concretizar. Podia ter jogado na Primeira Liga mas não o consegui, contudo, acho que fiz uma carreira engraçada.”
Ao longo de tantas temporadas, Celso viveu vários momentos com diversos treinadores de guarda-redes mas Hugo Oliveira foi quem o marcou mais. Sobre o actual SL Benfica afirmou: “o único senão foi ter-me cruzado com ele quando já tinha 31 anos, mas mesmo assim evoluí muito com ele” e é curioso constatar a experiência do primeiro aos doze anos: “fui convidado a treinar à experiência no SL Benfica e, para um miúdo da aldeia, é um sonho. Aí foi o clique. Comecei a acreditar no meu valor e persegui com todas as forças e o sonho de ser guarda-redes.”
Aos 42 anos fechou este capítulo. Com 26 jogos nas pernas ao serviço do CNS. “Sinto-me ainda em condições para jogar e acho que merecia para assim: parar por vontade própria e fazer com que as pessoas se lembrem do Celso”, terminou aquela que foi a sua última frase como guarda-redes.