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Como Johan Cruyff olhava, compreendia e entendia os guarda-redes

Como Johan Cruyff olhava, compreendia e entendia os guarda-redes

24 Março, 2016
Literatura e Cinema

Como Johan Cruyff olhava, compreendia e entendia os guarda-redes

Aos 68 anos Johan Cruyff partiu e deixou o Mundo do Futebol mais pequeno nesta quinta-feira… mas também O Mundo dos Guarda-Redes, como aqui vamos provar.

Visionário do Futebol, o Holandês marcou várias gerações com a camisola da Laranja Mecânica, do Ajax, do FC Barcelona ou até do Feyenoord – em fim de carreira -, chegando aos bancos do clube Blaugrana para revolucionar – ainda mais -, a qualidade do dito “jogo jogado”… algo que começou a desenhar no clube de Amesterdão, onde fez de Stanley Menzo um autêntico líbero.

Para Johan Cruyff o guarda-redes era o “grande solitário do Futebol”, como escreve no seu livro Fútbol: Mi filosofía (2012, Ediciones B, S. A.), uma obra onde pretendeu “transmitir que o Futebol não é só um jogo simples, mas também pode ser uma maneira de se viver.”

Acima de tudo, desde a formação de base, Johan Cruyff afirmava que quem ocupasse esta posição devia de “ter ganas de o fazer” e para isso devem ser protegidos os jovens que arriscam pela primeira vez a defesa da baliza: “nos primeiros treinos do jovem guarda-redes há que evitar colocar demasiada pressão sobre ele ao ensinar-lhe mil coisas. É muito melhor ir transmitindo a informação enquanto ele se diverte na sua nova posição”, redigiu.

Como método de iniciação enalteceu o facto de ensinar o jovem guarda-redes “a cair bem, para não ter dor” porque “quando deixa de doer [nas quedas], aumentam as ganas de fazê-lo bem na baliza e o rendimento aumentará automaticamente.” Aqui, referiu também a importância de treinar “certas coisas com cautela: a visão da jogada e, portanto, como mover o corpo. Há que saber não só olhar, como também saber mover-se para só depois agarrar a bola, controlá-la e depois examinar a situação uma vez que temos a bola sob controlo.”

Johan Cruffy afirmava que o “guarda-redes perfeito não existe – tal como não existe o jogador de campo perfeito.” Por isso apontou a dificuldade e os problemas “da coordenação de movimentos – uma das principais destrezas que um guarda-redes deve ter-” em idades precoces. “À medida que o guarda-redes vai crescendo e o jogo passa a ser jogado mais rápido há que começar a formar o controlo do ritmo”, portanto, na visão do Holandês torna-se importante “controlar o tempo de reação.” Uma qualidade que acreditava estar “cultivada numa certa paz interior.”

Já na última fase da formação do guarda-redes, Johan Cruyff refere a importância de “ser assegurado que os princípios básicos estão assimilados” no guardião e que “quanto mais claro os tenha, mais confiante será e mais tranquilidade interior terá. E quanta mais tranquilidade, mais controlo das situações e melhor organização defensiva debaixo da sua liderança [a equipa / sistema defensivo] terá.”

Assim como destaca que “o guarda-redes perfeito não existe”, assinala também que “não se pode descrever o guarda-redes standard” falando em estilos variados: “o guarda-redes de colocação [posicionamento], o guarda-redes técnico, o guarda-redes imbatível pelos flancos, o guarda-redes com capacidade para comandar a defesa… para gostos e cores” diferentes.

No campo pessoal, enquanto treinador, Johan Cruyff referiu que sempre procurou “guarda-redes que façam a equipa descer o menos possível a defender e que, portanto, sejam ativos (…), alguém que irradie muita tranquilidade e que não precise de muitas defesas para entrar em jogo (…), alguém que não só saiba parar com as mãos como também jogar com os pés, com bom sentido tático e capacidade de liderança.”