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Entrevista a Mário Pacheco, o treinador de Júlio César durante os seus 6 meses sem clube

 
Como O Mundo dos Guarda-Redes já publicou por diversas vezes, Júlio César esteve bem presente na recta final do Getafe na Liga BBVA e foi um dos principais responsáveis pela manutenção do clube Madrileno no principal escalão do Futebol Espanhol.
 
Júlio César, entre Setembro de 2013 e Março de 2014 esteve sem clube depois da rescisão de contrato com o SL Benfica e teve a sua chance de voltar “aos grandes palcos” pelo Getafe, mas
durante esse interregno, houve quem esculpisse as debilidades do guarda-redes e não o deixasse desabar na inactividade.
 
O Mundo dos Guarda-Redes procurou 0 treinador de guarda-redes Mário Pacheco, um dos
principais responsáveis pelo recente sucesso da luta de Júlio César e, também, em quota parte da manutenção do Getafe.
Mário, sabendo que é treinador de guarda-redes, quais são os aspectos que mais procura treinar?
– Mário Pacheco: Eu já sou treinador de guarda-redes desde há já alguns anos e nestes últimos dois anos eu também dou treinos específicos para guarda-redes, ou seja, aqueles guarda-redes que querem evoluir em alguns
aspectos mais específicos, isto é, naqueles aspectos que eles tenham algumas fragilidades é por aí que eu intensifico os meus treinos.
Como foi o seu primeiro encontro com Júlio César?
– MP:  Normalmente eu faço os meus treinos no Jamor, e nessa altura [Setembro] no Estádio Nacional,
num campo sintético, já tinha reparado que o Júlio César andava lá a treinar ao final da tarde e depois curiosamente ele também andava a treinar com um colega nosso, o Marco, que é treinador do Castelo Forte, que uma vez veio falar
comigo: “Já reparaste quem é que normalmente anda aqui a treinar, o Júlio César, sabes perfeitamente quem é, mas ele precisa de uma pessoa que o acompanhasse visto que ele está sem clube, não sabe qual é a previsão de
arranjar clube, e era importante alguém acompanhá-lo. Eu disse “tudo bem, por mim é pacífico”, e depois um dia ele
fez-me a aproximação ao Júlio e ele falou precisamente o que pretendia e chegamos a um acordo, assim logo começamos os nossos treinos.
E o que pretendia Júlio César? De que maneira desenvolveu o trabalho à volta de Júlio?
– MP: Depois de uma breve conversa que eu o Júlio tivemos, uma vez que eu encontrei o Júlio num estado um pouco desmotivado pois segundo as palavras dele foi dispensado pelo Benfica, não foi ele que quis sair do Benfica,
os primeiros treinos que nós fizemos foi puxá-lo para a condição física, melhorar os aspectos físicos, que era o mais importante, e juntamente com os aspectos físicos, melhorar os psicológicos, que também era extremamente importante. Daí para a frente houve alturas que trabalhávamos todas as semanas, sempre de manhã, e depois também tive a oportunidade e a felicidade das pessoas do Cascais abrirem-me as portas e essas pessoas ficaram agradadas, porque não é todos os dias que se recebe um profissional do Futebol e havia dias em que nós treinávamos todos os dias de manhã no Cascais. Começámos em Setembro e fomos praticamente até aos últimos dias dele ir para Espanha. Inclusive uma vez por semana fazíamos trabalho de areia na praia de Carcavelos e, então, após o final de cada semana, fazíamos sempre um planeamento de trabalho para a seguinte.
Qual era a longevidade das sessões de treino e qual era o trabalho a que Júlio estava habituado?
– MP: Só trabalhávamos dentro de uma hora por dia, não fazíamos mais que 60 minutos e uma coisa que ele me disse, é que no Benfica não trabalhava tanto as partes que nós trabalhávamos, porque no Benfica eles só fazem “manutenção”, não fazem o trabalho exaustivo, a nível da velocidade, fazem um trabalho técnico-táctico, um trabalho pouco físico e eu sempre treinei nesta base.
Como é que a sua relação se desenvolveu com Júlio César?
– MP: Fomos falando, sempre com muita colaboração, muita coordenação entre ambos, muita interajuda, e eu também sempre que precisei de saber o que ele precisava e que aspectos ele tinha que melhorar ele ajudava-me,
e mediante isso nós íamos trabalhando de uma forma muito progressiva e fico muito contente dele ter voltado outra vez aos palcos principais, que é onde ele merece estar e tenho toda a noção e acredito que ele vá ficar em Espanha,
claramente.
Qual é a sua perspectiva sobre o futuro de Júlio?
– MP: Ele assinou um contrato só até ao final da época e agora não sabe o dia de amanhã. Acho que ele tem muita capacidade para ficar em Espanha. Se por acaso não ficar em Espanha – porque uma das situações que podia prejudicar a transferência para outros clubes é que ele ainda não tem passaporte comunitário, mas a partir de Agosto ele já vai poder circular livremente pela Europa, que para ele é uma situação muito mais benéfica –  acredito que ele volte outra vez aos grandes palcos que é onde ele deve estar.
Pode dar uma visão de como é o Júlio César como pessoa?
– MP: Já conheço o Júlio César desde que ele chegou ao Belenenses, de assistir aos seus jogos, e nestes últimos meses nós convivemos muito, e o Júlio César, que para além de ser um excelente profissional, um excelente guarda-redes, achei-o extremamente humilde, muito realista dos valores que ele tinha em mente, nada orgulhoso, não é uma pessoa que se gosta de exibir, sempre gostou de treinar de uma maneira sem estar muita gente a ver, sem
vedetismo, e eu nesse aspecto fiquei muito impressionado porque normalmente o jogador de Futebol gosta de aparato. É uma pessoa que gosta de ouvir, gosta de partilhar ideias, e acima de tudo foi isto que gostei muito nele, partilhar ideias e a extrema humildade como ser humano, como pessoa.