O III Congresso Internacional de Treino de Guarda-Redes começou nesta sexta-feira com um painel dedicado à parte psicológica do treino específico de guardiões, à metodologia do Panathinaikos e com as homenagens a Robert Enke e Peter Shilton, contando ainda com a Mesa Redonda onde se discutiu a vivência entre os postes.
Pelas 15h45 Marco Ribeiro, responsável da Toda a Prova, deu o mote para um dia de discussão e passou a palavra ao coordenador do Congresso Hugo Oliveira – treinador de guarda-redes do SL Benfica -, que avivou a “paixão pelas balizas”, como tópico central.
Em representação da Catapult, Henrique Ortigão apresentou o software de melhoramento e análise da performance dos guarda-redes à plateia e mostrou o conceito da programação que assenta nas funções reactivas, pro-activas e previsivas da ação do guardião.
Seguiu-se Thierry Barnerat, instrutor FIFA e membro do departamento de guarda-redes da Federação de Futebol da Suíça, que baseou a sua apresentação no “Conceito sobre a percepção”, um estudo que contou com a colaboração de três professores – especializados em Ciências Cognitivas, Neuro-ciências e movimento dos olhos. O treinador Helvético desdobrou ainda os diferentes tipos de Percepção – periférica, da trajectória e do olho diretor -, e exemplificou os benefícios da utilização de óculos estroboscópicos.
Amalia Revuelta, psicóloga desportiva com experiências ao serviço de Cádiz CF ou UD Levante, falou sobre a Lateralidade e a especificidade do cérebro nas ações e tomada de decisão do guarda-redes, objetivando a sua comunicação com o ensinamento da utilização do “perfil corporal como recurso inteligente para resolver situações individuais e coletivas do jogo”, entre várias especificidades do cérebro e dos seus hemisférios.
Na exemplificação da metodologia de um clube Vaggelis Lappas expôs a sua experiência ao serviço do Panathinaikos, revelando o modelo adotado pelo clube Grego desde os sub-8 ao plantel sénior com o objetivo de “desenvolver pessoas psicologicamente estáveis, conciliando as qualidades técnicas” sob o modelo TIC – Technique inside communication (técnica integrada na comunicação).
Ausente devido à final da Champions League, Luis Llopis deixou uma mensagem de apreço para os congressistas e enviou dois exemplos do seu trabalho junto de Keylor Navas no Real Madrid CF – guarda-redes que também deixou a sua mensagem.
Pelo segundo ano consecutivo Hugo Oliveira foi distinguido com o prémio Record para o treinador de guarda-redes campeão da Primeira Liga e dedicou a distinção a “todos os que levam o caminho do sucesso, o caminho do SL Benfica” e também aos seus guarda-redes Ederson Moraes, Júlio César e Paulo Lopes, sem esquecer os mais jovens guardiões da equipa B Encarnada.
Entrando nas homenagens Peter Shilton e Robert Enke foram os tributados com o Tributo Redes Seguras. Enquanto o lendário ex-guarda-redes Inglês afirmou-se “feliz por estar novamente entre amigos [de baliza]”, Teresa Enke recebeu a distinção do Alemão e emocionou a plateia com uma extensa mensagem onde contou a paixão de Robert por Portugal e alertou para a atenção que deve ser dada a uma doença como a depressão.
No último painel a Mesa Redonda foi constituída pelo jornalista Carlos Daniel, Teresa Enke, Amalia Revuelta, Peter Shilton e pelo guarda-redes do SL Benfica Paulo Lopes.
Numa conversa fluída e com especial atenção para o trato psicológico e as exigências vividas pelo guarda-redes, Carlos Daniel recolheu declarações interessantes por parte dos intervenientes. Passamos a citar algumas das passagens:
Peter Shilton: “O guarda-redes é uma posição especial. Com sete anos a professora [da escola] perguntou quem queria ir para a baliza e eu respondi que ia, e por lá fiquei. (…) Todos os guarda-redes cometem erros, mas os grandes guarda-redes cometem poucos.” Amalia Revuelta: “O guarda-redes tem de assumir uma responsabilidade individual desde pequeno.” Paulo Lopes: “[O guarda-redes deve] acreditar que é sempre possível fazer melhor.” (…) “[Para o guarda-redes] a família é o melhor apoio. Há momentos, até, que eles acreditam mais [em mim] que eu.” Teresa Enke: “Ter uma família que perceba e saiba lidar connosco é muito importante. Também é bom o Desportista ter alguém no clube com quem falar.” (…) “Os treinadores devem conhecer a pessoa [com quem trabalham, diferenceando-a do jogador].”