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Jehle em acção contada pelo próprio – MaisFutebol

Jehle em acção contada pelo próprio – MaisFutebol
16 Outubro, 2014 | por Roberto Rivelino
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O jornalista Pedro Jorge Cunha, do MaisFutebol, teve carta branca para revelar, em reportagem, o dia-a-dia e as vivências dos jogadores de uma das mais pequenas federações de Futebol. Recebido por “uma simpatia invejável” de Peter Jehle, ex-Boavista e actual Vaduz, o jornalista conseguiu o relato na primeira pessoa de um jogo inóspito para o guardião.

No empate a 0 contra Montenegro, definido por Pedro Cunha como “histórico”, Peter Jehle partiu o seu braço. Contado pelo próprio ganha outra conotação, por isso, O Mundo dos Guarda-Redes deixa-o entrar na pele do guarda-redes do Liechtenstein:

“Já estamos no autocarro, sentados. O caminho para o estádio dura poucos minutos. Silêncio. A equipa está em modo de jogo: focada e concentrada. Muitos dos jogadores ouvem música nos headphones. Eu sou um deles. 

Ainda penso nas palavras do nosso selecionador. Há meia-hora falou connosco e mostrou-nos uma imagem que não me sai da cabeça: na capa de um jornal estrangeiro, desportivo, lemos que o Liechtenstein não será capaz de fazer um único ponto neste grupo de qualificação… 

Já vemos o estádio, os holofotes estão ligados. Saímos do autocarro e vamos diretamente para o balneário. Falámos com o roupeiro e recolhemos o equipamento. Relvado. Que noite fantástica para jogar futebol em Vaduz! Quase não consigo esperar pelo início. 

Estamos bem preparados para defrontar Montenegro. Eu sinto-me cheio de energia. 

Voltamos ao balneário, equipo-me e salto para o aquecimento. No balneário a música toca nas alturas, ninguém fala. O que tinha de ser dito foi dito no hotel. Ok, agora já ninguém me segura, estou pronto. 

O treinador de guarda-redes fala comigo, um adepto chama por mim na bancada. Não tenho tempo para falar, o meu cérebro só pensa na bola. Tudo o que me rodeia está longe, longe. Ótimo, estou da forma que mais gosto. 

Volto ao balneário e ouço a equipa de Montenegro aos berros, logo ali ao lado. Entramos, toca o hino nacional e eu canto de olhos fechados. Foto de equipa, apito inicial, vamos!!! 

Montenegro entra forte, cheio de vontade de vencer. Um ataque atrás de outro, remate difícil do Jovetic. Encaixo bem a bola. I am on fire! Estamos a lutar, Montenegro impõe o ritmo. Intervalo, 0-0, que primeira parte dura! 

Segunda parte, ataques selvagens de Montenegro. Precisam desesperadamente de um golo. 

Minuto 63. Vucinic tem a bola, finta, entra na área e tem boa posição de remate. Chuta. A bola vem direita a mim. Ok, não parece difícil. Bate-me na mão direita, sinto e ouço um crack no meu braço. O impato é fortissimo. Merda. Chuto a bola para fora, todos olham para mim. 

Ouço gritos: o que se passa Pete? Não respondo. Sento-me e espero pelo médico. O que tens? Senti alguma coisa a partir no braço Doc. Tens de sair Pete, deve ser alguma coisa séria. Atrás, o fisioterapeuta avisa o treinador. Grito de dor e raiva. 

Abandono o relvado. Sinto que vou ficar de fora várias semanas… agora é com os meus colegas.”


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